Derivação Ventricular Externa

O que a Enfermagem precisa saber sobre a Derivação Ventricular Externa (DVE)?

O cateter de Derivação Ventricular Externa (DVE) é um dispositivo instalado no corno frontal do ventrículo lateral e que se conectado a um transdutor que emite o sinal a um monitor, é possível a medição contínua da pressão intracraniana.

A DVE é constituída por um cateter de polietileno ou silicone radiopaco de 9 French (Fr) que tem um comprimento de 30 a 50 cm, 2 mm de lúmen interno, 3 mm de diâmetro externo e ponta com orifícios laterais na qual se coloca um saco coletor (Figura 1).

Figura 1- Sistema de drenagem (DVE)
  1. Escala de pressão – Em mmHg e cmH2O, bureta graduada móvel para maior precisão no controle da pressão e na medição do volume drenado.
  2. Filtro antimicrobiano hidrofóbico resistente à água, prevenindo a interrupção da drenagem por bloqueio do filtro. Acompanha clamp que deve ser fechado quando for necessário posicionar o sistema temporariamente na horizontal.
  3. Torneira 3 vias – com saída para monitoração da PIC.
  4. Conector macho e fêmea permite a troca da bolsa de drenagem.
  5. Bolsa coletora – com 700ml graduada a cada 50 mL.
  6. Porta coletora para esvaziamento da bolsa sem a necessidade da utilização de agulha, prevenindo vazamentos e contaminações e com corta fluxo para evitar vazamento.
  7. Conector
  8. Corta fluxo
  9. Torneira 3 vias
  10. Válvula em Y para coleta de amostra ou injeção de líquido, sem a necessidade da utilização de agulha, prevenindo vazamentos e contaminações.
  11. Válvula anti-refluxo – para prevenção de retorno do líquor.

A inserção do cateter é realizada no centro cirúrgico com anestesia local ou geral, dependendo das condições em que se encontra o paciente. Volume normal esperado para a drenagem liquórica é de 20 mL/h.

É necessário que a enfermagem possua conhecimentos científicos e habilidades técnicas para poder manusear adequadamente este dispositivo, proporcionando uma assistência de enfermagem segura para o paciente.

Indicações

  • Hemorragia intraventricular;
  • Tumores cerebrais;
  • Edema cerebral;
  • Monitorização da pressão intracraniana (PIC);
  • Drenagem de líquor cefalorraquidiano (LCE);
  • Tratamento de hidrocefalia;
  • Administração intratecal de fármacos.

Cuidados de Enfermagem

  • Para a manipulação do cateter devem ser tomadas as medidas prévias de assepsia, como a lavagem das mãos e uso de luva estéril (Figura 2 e 3);
Figura 2 – Lavagem simples das mãos
Figura 3 – Luva cirúrgica estéril
  • Ao admitir o paciente na unidade, é necessário posicioná-lo no leito, mantendo a cabeceira elevada à 30 graus, caso não haja contraindicações e após deve-se nivelar o sistema de DVE;
  • Nivelando o sistema : colocar a DVE ao lado do paciente, no suporte de soro, com o auxílio de uma régua de nível(Figura 4) , deixar o sistema no zero da escala de pressão, tomando como ponto de referência anatômico o canal auditivo externo que coincide com a região do forame interventricular (canal de comunicação entre os ventrículos laterais e o terceiro ventrículo), com o auxílio de uma régua de nível (Figura 5);
Figura 4 – Régua de nível
Figura 5 – Nivelando a DVE
  • A pressão de drenagem deve é estipulada pelo médico, porém na maioria das vezes se encontra entre 15 e 20 mmHg, com a bureta posicionada na escala de pressão (Figura 6);
Figura 6 – Bureta e escala de pressão
  • Após realizar o nivelamento, deve-se abrir o cateter para a drenagem liquórica, mantendo fechado o corta fluxo (clamp ou torneirinha) entre a bureta e a bolsa coletora (Figura 7). O clamp deve permanecer fechado para possibilitar o controle preciso da drenagem liquórica, devendo ser aberto a cada 6 horas ou de acordo com a rotina específica do serviço, para computar o débito;
Figura 7 – Bureta e Bolsa Coletora
  • Manter o saco coletor sempre pendurado, observando para que não se encha até 2/3 da capacidade total, para não pressionar o cateter, devendo ser desprezado seu débito (Figura 8);
Figura 8 – Bolsa Coletora
  • Realizar o curativo diário da pele do orifício de saída do cateter e proteger o sistema com campo estéril, observando sinais de infecção;
  • Manter o cateter até sete dias no máximo; depois disso pode-se realizar a troca ou retirada;
  • Realizar avaliação neurológica e avaliação pupilar;
  • Observar se há obstrução do cateter e comunicar com urgência a equipe da neurocirurgia;
  • Examinar as características da drenagem: aspecto, cor e volume (normal 20 mL/h – se essa quantidade for excedida, informar o médico); a pressão de drenagem deve estar entre 15 e 20 mmHg;
  • Realizar a medição da drenagem de acordo com os protocolos de cada instituição;
  • Manipular a porta corta-fluxo e os circuitos o mínimo possível;
  • Cuidar para que o cateter permaneça aberto permanentemente;
  • Zerar o sistema e realizar o nivelamento a cada seis horas ou quando alterar o decúbito do paciente;
  • Utilizar técnica estéril para o recolhimento de amostras ou administração de fármacos via intratecal;
  • Restringir a coleta de amostras de LCE; coletar apenas se houver suspeita de infecção do sistema nervoso central (SNC); coletar a amostra por meio de uma das tampas de borracha do sistema intermediário, aplicando a técnica asséptica.
  • Avaliar a presença de tosse, alteração de consciência, convulsões, rigidez da nuca e febre, pois são sinais de alarme;
  • Comprovar a permeabilidade do sistema;
  • Observar a integridade e a esterilidade do dreno e suas conexões;
  • Controlar a posição do cateter;
  • Observar a integridade e a esterilidade do dreno e suas conexões;
  • Controlar a posição do cateter;
  • Atentar-se para o fato de que, se a drenagem não fluir normalmente, não se deve aspirar nem infundir soluções pelo cateter; informar o médico e preparar o paciente para realizar uma tomografia axial computadorizada para verificar a posição do cateter. A disfunção pode ser devida à obstrução por coágulos. Há evidências de que a experiência com a infusão de fibrinolíticos através do cateter (estreptoquinase 25.000 UI em 2 mL de soro fisiológico) permeabiliza a via, devendo-se monitorar resultados de tempo de protrombina (TP) e tempo de trobomblastina parcial (TTP);
  • Evitar a presença de bolhas de ar no sistema de drenagem ou circuitos de monitoramento;
  • Zerar ou pinçar o sistema ao realizar trocas de posição, mobilizações e mensurar a pressão arterial média;
  • Fechar o sistema, avaliando sempre a hemodinâmica do paciente, em caso de transporte do paciente para outros lugares – radiologia;
  • Caso seja indicado, a administração de medicamentos deverá ser realizada pela tampa de borracha mais próxima do cateter, após limpeza da tampa com solução alcóolica;
  •  Ao administrar medicamentos, diluir com 2-5 mL, eliminando previamente um volume similar de LCE, para evitar aumento da pressão intracraniana;
  • Em caso de administração de antibiótico, deve-se interromper o circuito mínimo de 1 hora, para que a sua distribuição seja otimizada; deve-se realizar a avaliação neurológica (Glasgow). Se houver deterioração de mais de 2 pontos na Escala de Coma de Glasgow ou elevação da PIC superior a 20, o sistema será aberto novamente. Em caso de fibrinolítico, verificar se ocorreu sangramento;
  • Se o cateter for fechado para a sua possível retirada, anotar o horário e identificar o seu fechamento e observar nível de consciência e pupila, se alterações abrir o cateter e comunicar o médico.

Coleta de amostra através do cateter

  • Efetuar a lavagem das mãos, fazer uso de máscara e luvas estéreis;
  • Realizar a limpeza e desinfecção da entrada da porta corta-fluxo de três vias;
  • Usar uma seringa para coletar a amostra;
  • Identificar a amostra, indicando os testes solicitados;
  • Encaminhar rapidamente à bacteriologia; não refrigerar a amostra para manter a viabilidade dos germes.

Referências

KNOBEL, E. Terapia intensiva: enfermagem. São Paulo: Atheneu, 2006. 636p.

POTTER, Patrícia A; PERRY, Anne Griffin. Fundamentos de enfermagem. 8 ed. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2013.

PRADO, M.L.; GELBCKE, F.L. Fundamentos para o cuidado profissional de enfermagem. Florianópolis: Cidade Futura, 2013.

Enfermagem em terapia intensiva: práticas integrativas. — Barueri, SP: Manole, 2017. Vários autores.

3 Responses
  1. Bom dia Janaína. Sou nova em setor de neurologia. E estando de folga minhas colegas receberam um paciente com DVE. Pedi orientações no nosso grupo e elas disseram que o médico pediu pra deixar o paciente em decúbito zero e realizar o nivelamento com base na altura do cotovelo. Li agora seu artigo e me assustei. Se eu deixar em decúbito zero a pressão intracraniana aumenta certo? E medir no cotovelo?????

    1. Não necessariamente aumentaria, ao solicitar autura do cotovelo fiacria mais baixo, sistema usado geralmente para diminuir a PIC do paciente, geralmente em casos de hidrocefalia e aumento generoso do débito, mas ideal seria ângulo de 30° para DVE e DVP.

  2. Oi Cinthya tudo bem ? Sempre precisamos estar atentos ao local onde foi inserido o dreno cefálico, pois o conjunto da DVE muitas vezes pode ser usado em uma drenagem de hematoma subdural agudo e se for assim o posicionamento muda. Isso acontece muitas vezes por falta de drenos nos serviços, então se estiver locada no ventrículo deve-se seguir a recomendação de nivelamento e posicionamento descritos aqui. Obrigada pela sua participação Janaina Batista.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *